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Pilot Incapacitation: cuidados redobrados em tempos de pandemia

Por Alexander Coelho Simão

Pilot incapacitation é o termo utilizado para descrever a incapacidade de um piloto realizar suas funções em decorrência do surgimento, durante o voo, dos efeitos de problemas fisiológicos.

Essa incapacidade pode ser sutil ou repentina, parcial ou total. Pode ocorrer devido a uma condição médica pré-existente que se manifesta em voo ou ao desenvolvimento de uma condição médica aguda ou evento fisiológico que torna um piloto, em boa forma, temporariamente incapaz de operar a aeronave.


Este é um tipo especial de emergência médica a bordo porque o impacto da incapacitação não se limita apenas à pessoa afetada e pode potencialmente prejudicar o controle da aeronave, tornando-se um risco à segurança de voo. Em várias ocasiões, a incapacitação do piloto resultou em incidentes ou acidentes aeronáuticos. Nos últimos dez anos, foram registrados seis eventos de pilot incapacitation na aviação regular brasileira: um incidente grave e cinco incidentes. Em cinco dessas ocorrências, houve a necessidade de pouso em aeródromos alternativos.

Em um estudo mais abrangente, o ATSB (congênere australiana do CENIPA) identificou 86 eventos de incapacitação de pilotos na aviação regular entre 2010 e 2014 (29 incapacitações por milhão de decolagens ou 1 incidente a cada 34.000 voos). O gráfico a seguir traz resumidamente as causas e as consequências das incapacitações identificadas. Reconhecendo a incapacitação.


De modo geral, a literatura descreve duas categorias de pilot incapacitation: a óbvia ou completa e a sutil ou incompleta. A primeira é de fácil reconhecimento e suas implicações são bastante óbvias. A segunda, no entanto, é frequentemente mais perigosa, pois pode passar despercebida até mesmo pelo próprio incapacitado, o que impedirá que ações preventivas sejam tomadas a tempo.


Incapacidade óbvia ou completa


• A primeira indicação pode ser perda de consciência, convulsão, dor intensa ou paralisia;

• O início é repentino e a condição da vítima pode piorar rapidamente;

• A vítima pode interferir no controle da aeronave, segurando ou caindo sobre os comandos durante uma convulsão ou desmaio, ou comportando-se de maneira violenta ou agressiva.


Incapacidade sutil ou incompleta


• Os sintomas tornam-se evidentes apenas em momentos de elevado estresse ou carga de trabalho;

• Habilidades ou julgamento são perdidos com pouco ou nenhum sinal externo;

• A vítima pode não responder a estímulos, tomar decisões ilógicas ou manusear os comandos de maneira ineficaz ou perigosa.

Ambos os tipos de incapacidade podem ocorrer como resultado de problemas relacionados à hipóxia associada a problemas de pressurização em altitudes acima de 10.000 pés; fumaça ou vapores resultantes de incêndio ou contaminação do sistema de ar condicionado; problemas gastrointestinais decorrentes de intoxicação ou alergia alimentar; ataque cardíaco; derrame; convulsão; cegamento de laser; colisão com pássaros; ou qualquer outro evento que cause lesão física incapacitante, tais como turbulência, explosão, incêndio, interferência ilegal, passageiro indisciplinado, etc.

O que fazer?


De modo geral, a chave para evitar problemas sérios de pilot incapacitation em aeronaves com tripulação múltipla é a disponibilidade de SOPs apropriados e treinamento recorrente que abordem essa condição.


O Transport Canada sugere o mnemônico “CHASE” como auxílio à tomada de ações após um caso de incapacitação.

A primeira atitude em qualquer emergência é garantir que a aeronave esteja voando com segurança. O piloto saudável acumulará imediatamente as funções de pilot flying e monitoring.


Na sequência, informe os demais tripulantes e faça uma chamada de emergência ao ATC comunicando a situação. Após isso, solicite que um comissário de bordo venha à cabine de comando atender o piloto incapacitado. Ele deve mover seu assento para longe dos comandos, prendê-lo com o cinto de segurança e dar os primeiros socorros. Nesse ínterim, os demais tripulantes podem verificar se há um médico a bordo.

Um membro da tripulação deve permanecer na cabine de comando para auxiliar o piloto, enquanto o restante preparará a cabine de passageiros para o pouso. O piloto saudável deverá seguir criteriosamente seus SOPs para garantir que nada de importante seja perdido durante as fases de descida, aproximação e pouso.

Escolha um aeroporto adequado, obtenha as atualizações meteorológicas, configure os computadores de voo e forneça ao ATC o máximo de informações possível, incluindo a solicitação de uma equipe médica na chegada.


Durante a descida, assim que a carga de trabalho permitir, faça um anúncio rápido aos passageiros e garanta que eles permaneçam sentados até que a equipe médica atenda o piloto.


Perspectivas na pandemia


A pandemia da Covid-19 provocou uma crise sem precedentes na indústria de transporte aéreo. O número de voos reduziu drasticamente, as aeronaves foram groundeadas em aeroportos por todo o país e grande parte das tripulações ficou em terra, sem voar.


Descortinou-se um cenário de grande incerteza, com perspectivas bem diferentes daquelas esperadas para um setor até então estável. Passado mais de um ano, ainda não se tem sinal claro de quando essa crise acabará.

O sentimento de incerteza em relação ao futuro, o receio de perder o emprego, a possibilidade de redução salarial e a mudança do padrão de vida, entre outros fatores, podem desencadear interferências na qualidade de vida das tripulações, provocando impactos, sobretudo, no sistema biológico.

Desse modo, em tempos de pandemia, os cuidados com a saúde física e mental mostram-se ainda mais relevantes.


Não existe receita pronta, mas algumas medidas podem amenizar os impactos negativos desse momento em que vivemos, tais como: praticar atividades físicas, cuidar da alimentação, priorizar uma boa noite de sono, não fazer uso de medicamentos sem supervisão médica, evitar o consumo excessivo de álcool, fazer uma desintoxicação das informações negativas e ter momentos de diversão e lazer.


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Sobre o Autor


Alexander Coelho Simão é Cel Av da FAB, trabalha na Divisão Operacional (DOP) do CENIPA e possui mestrado em Segurança da Aviação e Aeronavegabilidade Continuada pelo ITA.

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Texto originalmente publicado no ASAGOL Safety News 12. Para ler a edição completa clique aqui.

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